domingo, 13 de março de 2011

"Há sempre um copo de mar para o homem navegar" - Jorge de Lima - Invenção de Orfeu (1952)

Postei esta poesia  de Jorge de Lima em homenagem a 29ª Bienal de São Paulo. A poesia dá nome a exposição que está no Palácio das Artes de B.H. até 20 de março - http://www.fcs.mg.gov.br/



A ilha ninguém achou
porque todos a sabíamos.
Mesmo nos olhos havia
Uma clara geografia.

Mesmo nesse fim de mar
qualquer ilha se encontrava,
mesmo sem mar e sem fim,
mesmo sem terra e sem mim

Mesmo sem naus e sem rumos,
mesmo sem vagas e areias,
há sempre um copo de mar
para um homem navegar.

Nem achada e nem não vista
nem descrita e nem viagem,
há aventuras de partidas
porém nunca acontecidas.

Chegados nunca chegamos
eu e a ilha movediça.
Móvel terra, céu incerto,
mundo jamais descoberto.

Indícios de canibais,
sinais do céu e sargaços,
aqui um mundo escondido
geme num búzio perdido.

Rosa de ventos na testa,
maré rasa, aljôfre, pérolas,
domingos de pascoelas.
E esse veleiro sem velas!

Afinal: ilha de praias.
Quereis outros achamentos
além dessas ventanias
tão tristes, tão alegrias?





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