segunda-feira, 18 de abril de 2011

Mulherices: Em defesa dos frascos e dos comprimidos

Mulherices: Em defesa dos frascos e dos comprimidos




Por Lilian Buzzetto 




  
Tenho uma colega em depressão. Ela não está triste porque tomou um pé na bunda, o chefe é um boçal e a calça jeans não entra. Não, a moçoila foi clinicamente diagnosticada, farmacologicamente tratada e, de acordo com seu psiquiatra, apresenta o quadro clássico que segue cada linha do que está escrito nos manuais e tratados da especialidade. Para todos os fins e por todos os meios, ela está doente.

Meu lado racional conversa comigo, argumenta, expõe dados, fatos e fontes tentando fazer com que o lado negro da minha alma se compadeça da situação, mas eu não consigo. Opto por me afastar de pessoas deprimidas e depressivas, pois, no fundo, acho-as deprimentes. E isso parece ser mais forte que eu!

Sou um desastre para consolar pessoas – cada frase que eu digo, tentando ajudar, faz o ser afundar ainda mais e costuma resultar em berreiro. Sou potencialmente nociva aos oficialmente deprimidos que se acham inúteis, uma vez que, por mais esforço que faça, vou deixar transparecer que – no fundinho do meu coração – concordo com o fato de que a pessoa é um desperdício de espaço no planeta e uma involução da raça humana.

Eu + Sujeito em Depressão = tendência ao suicídio.
E – desconfio que – EU + Sujeito Suicida = O último pulando do prédio.
[Nota mental: não me voluntariar a posto no CVV].

Podem me apedrejar: EU CONCORDO, APÓIO E FORNEÇO AS PEDRAS. Longe de mim, pensar que estou certa na questão, mas é assim que meu subconsciente ou o que quer que me defina em camadas mais profundas encara a coisa.

Minha mente funciona de maneira turrona e obtusa para algumas coisas e encaro a Teoria da Evolução mais a ferro e fogo do que ela merece. Quando ouço que alguém se trancou em casa por causa da depressão, concluo que é melhor que este humano se mantenha recluso, com menos risco de se reproduzir. Cada vez que ouço que, num caso extremo, alguém se suicidou ou tentou o suicídio, a frase “o mundo não perdeu nada de útil” inunda minha mente antes que eu consiga racionalizar qualquer ponto.

Talvez eu pense assim porque os transtornos psiquiátricos e psicológicos estão banalizados. Tenho a ligeira impressão de que se somarmos o número de pessoas que alegam estar estressadas, estafadas, deprimidas, com síndrome de vai-saber-lá-Deus-o-que, excederemos 7 bilhões de pessoas.

- Meu filho tem hiperatividade. 
Não, peã, eu conheço teu filho desde que nasceu. O que teu filho tem são sete anos, aquela fase insuportável e mal educada, que parece ser causada pela perda dos dentes da frente: e que gerações anteriores de papais e mamães solucionaram com meia dúzia de tabefes, muito choro e zilhões de horas sem poder brincar lá fora. Mas controlar o pimpolho com Ritalina é mais fácil que educar, né? 

 A sociedade anda dando a todas as fraquezas humanas um nome bonito, uma explicação minuciosa e um remedinho - o que seria ótimo se fosse encarado como forma de melhorar, curar, tratar. Mas o que vejo é que toda vez que um sujeito fracassa, tem um especialista para explicar e justificar o erro.

Bebe demais e não tem um pingo de força de vontade: é doente. Chora o dia inteiro e não tem vontade de viver: é doente. Não consegue se relacionar com os outros seres humanos: é doente. Come demais e está obeso, é doente. Matou a mãe, é doente. Eu, tabagista, sou doente.

Aposquintodosinferno. Tudo agora é desculpa, tudo foi causado por alguém do passado ou por uma série de reações químicas em algum lugar obscuro do organismo. O que vejo é falta de gente querendo assumir sozinha e no peito, seus erros por suas decisões, fracassos e incompetências.  

Eu não consigo parar de fumar porque fui uma idiota em começar e agora tenho menos força de vontade do que o necessário. Ponto. Era minha culpa antes, continua sendo minha culpa agora. E o fato de eu não conseguir respirar quando subo quatro lances de escada é culpa minha – não da genética do meu pulmão, não do fabricante de cigarros.

A maior parte dos gordinhos que conheço está acima do peso por comer como um porco, não por algo inevitável, hereditário e do mal.

A existência de “tratamento” para alguma situação negativa, não necessariamente transporta a pessoa afetada para o reino dos injustiçados. Existe tratamento para cárie, mas se você não escovar os dentes e tiver que lidar com um canal – a CULPA é sua – não é de Deus, não é do mundo, não é da sua mãe, nem de seus coleguinhas de pré-escola. É sua.

RESPONSABILIDADE. As pessoas fogem dela como meu dinheiro da minha conta corrente. A análise excessiva das relações de causa e efeito que afetam a psicologia humana tem criado – a partir de agora advertidamente, porque eu estou advertindo – uma série de muletas.

Você não fracassa na vida por não ser normal – até porque, já dizia um sábio qualquer, de perto ninguém é. Você fracassa porque erra, porque faz escolhas equivocadas, porque não é competente.

Você fracassa porque é um bosta.
PONTO.

E todos nós somos um bosta em algum momento, em algum aspecto. [Eu, em vários]. Ou será que TODA A HUMANIDADE ESTÁ DOENTE E INCAPACITADA? Se sim, fracassamos como espécie. Assumamos e miremos a extinção.

E nem venha me dizer que as pessoas são incapazes de assumir suas falhas porque a sociedade de hoje cobra de mais a perfeição e blá-blá-blá – porque eu e você somos indivíduos com livre arbítrio para reagir às cobranças e intempéries como assim nos aprouver. E se eu der errado: a culpa é só minha.

PS: Peço aos que tiveram que lidar com casos extremos das supracitadas doenças, minhas sinceras desculpas – mas não me apareçam todos dizendo que têm um ou mais desses transtornos encavalados ou conhecem alguém ou tem. Não entra na minha cabecinha tacanha que quase a totalidade da população mundial não seja capaz de assumir o que faz, o que é e onde cagou no pau. Vai um papel higiênico aí? 


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